Descrição - Ria de Aveiro | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Morfologia
A Ria de Aveiro é uma lagoa
costeira de baixa profundidade e extensas zonas entre marés. A Ria
estende-se por 45 km ao longo da costa Ocidental de Portugal desde Ovar até
Mira (latitude média 38º 5 N). A área total da Ria que está coberta durante a
preia-mar varia entre 83 km2 em maré viva e 66 km2 maré
morta (Dias et al, 1999). A profundidade média é de cerca de um metro e a
profundidade máxima, é mantida artificialmente nos canais de navegação
entre os 4 e os 7 metros. A comunicação com o oceano faz-se através do
canal da Barra com 1,3 km de comprimento, 350 m de largura e 20 m de
profundidade. A lagoa pode ser dividida em três
zonas principais: A zona Sul inclui os Canais de Ílhavo e Mira,
respectivamente com 7 e 14 km de comprimento e 200 e 300 metros de largura máxima.
O Canal de S. Jacinto - Ovar na zona norte tem 25 km de comprimento. No seu
extremo norte este canal é muito pouco profundo dando origem a uma rede
complexa de pequenos canais e bacias. A terceira zona, com uma geografia
muito complexa, termina em frente à foz do rio Antuã e é designada por
Ria Murtosa. Até há cerca de 10 séculos a
lagoa não existia, desaguando os rios directamente no oceano. Nessa altura,
iniciou-se o desenvolvimento de duas línguas de areia, uma a Norte em
Espinho e outra a Sul próximo do Cabo Mondego. Ao longo do tempo a localização
da barra foi variando entre Torreira e Mira, com períodos em que a lagoa
estava completamente isolada do oceano. Em 1808 foi construída a actual
barra, fixada por dois molhes. O caudal médio de água doce que
aflui à Ria é cerca de 40 m3/s. Os rios Vouga e Antuã
constituem as principais fontes de água doce, com caudais médios anuais de
24 m3/s e 2.4 m3/s, respectivamente (GRIA, 1990;Hall, et al., 1985). A circulação no interior da
lagoa é dominada pela maré, cuja amplitude varia entre 3.3 m em maré viva
e 1.0 em maré morta. O prisma de maré para uma amplitude de 2.8 m é 70´106
m3 com um caudal médio na barra de 4700 m3/s.
A partir das variações de nível medidas por marégrafos, Vicente (1985),
estimou que 20% do prisma de maré é desviado para a Zona Sul (Canais de
Mira e Ílhavo) e o resto do volume distribui-se em partes iguais entre a
Zona Norte (canal S. Jacinto – Ovar) e a Ria Murtosa, na zona central.
Cerca de 2/3 do volume que vai para esta zona escoa-se pelo canal de
Espinheiro. Na costa ocidental de Portugal a
onda de maré propaga-se de Sul para Norte. A maré penetra no interior da
Ria através do canal da Barra e propaga-se a baixa velocidade ao longo dos
canais. A velocidade de propagação é tão baixa que em alguns locais o
estado de fase pode ser oposto àquele que se verifica no oceano. Os atrasos
de fase são maiores em maré baixa podendo atingir 5 horas, nos extremos
dos canais de Mira e de S. Jacinto - Ovar (Vicente, 1985). As velocidades máximas
da ordem de 1 m/s ocorrem na zona da barra, nos canais mais estreitos e
profundos. O forçamento do vento é mais
importante nas zonas pouco profundas onde as correntes de maré são muito
baixas Dias, et al. (1996 a).
Dados
disponíveis
A batimetria utilizada pelo
modelo foi determinada a partir das medições feitas pelo Instituto Hidrográfico
entre 1986 e 1990. Durante essas campanhas o Instituto Hidrográfico
realizou também medidas do nível do mar em 10 estações e velocidade em 5
estações, nos locais indicados na Figura
1
, cujas designações, coordenadas e períodos de amostragem são
apresentadas na Tabela
1
. Os dados de salinidade e
temperatura foram obtidos em perfis verticais durante duas campanhas hidrográficas
realizadas em Junho de 1996 e Julho de 1997 em 31 estações distribuídas
por 8 secções (Dias et al.,
1999). Estes perfis mostram que o canal de Mira é bem misturado e que os
canais de S. Jacinto, Espinheiro e Ílhavo são parcialmente misturados ou
homogéneos. O nível de estratificação depende do principalmente dos
caudais dos rios Vouga, Antuã e Boco (na extremidade sul do canal de Ílhavo).
Implementação
do modelo
Uma vez que a lagoa tem boa
mistura vertical, o modelo tridimensional foi implementado com uma única
camada vertical, reservando o recursos de cálculo para maximizar a resolução
horizontal, de modo a optimizar a resolução dos canais estreitos por onde
se faz a generalidade do escoamento na Ria. Figura
1
: Estações de amostragem do IH, nas campanhas de 1986 a
1989. Tabela 1
: Estações e períodos de medida do nível do mar e da
velocidade.
O modelo cobre todo o interior da
Ria e a plataforma continental adjacente. O passo horizontal do modelo é
variável para permitir uma melhor resolução no interior da lagoa. O passo
espacial horizontal mínimo é 50 m e o máximo é 500 m na plataforma
continental. Com esta discretização horizontal o modelo usa uma matriz de
cerca de 103000 pontos ( 316 na direcção Este-Oeste e 326 na direcção
Norte-Sul). A viscosidade horizontal foi
mantida constante em todo o domínio com o valor de 5.0 m2/s. O
coeficiente de atrito no fundo é calculado a
partir da rugosidade de Manning:
onde Cd é o
coeficiente de atrito no fundo, g é a aceleração da gravidade, M
é a rugosidade de Manning e H é a profundidade da local. O modelo
foi calibrado ajustando a rugosidade de Manning, tendo sido usados valores
entre 0.015 e 0.018 m-1/3s. Na fronteira com o mar foi
imposto o nível de maré. As componentes harmónicas foram obtidas a partir
das séries temporais medidas pelo Instituto Hidrográfico junto da barra.
Nas fronteiras com os rios foram impostos os respectivos caudais médios. O
passo temporal é 15 s. Validação
do Modelo
O modelo foi validado simulando
alguns períodos das campanhas do IH de 1987 e 1989. Foram consideradas na
fronteira oceânica 25 componentes harmónicas da maré e os caudais dos
rios Vouga, Boco, Caster, Antuã e Mira, típicos dos períodos que estavam
a ser simulados. Os resultados do modelo foram
também validados por comparação com as simulações Simultaneamente os
resultados do modelo foram também comparados com os resultados obtidos por
uma modelo 2D da Hidromod (1998). Nível
do mar
A Figura
2
ilustra a comparação entre os níveis simulados pelos dois modelos
e observados na Barra. O ajustamento é muito bom nesta estação. A figura
também mostra que o modelo 3D aqui usado apresenta um melhor desempenho que
o modelo 2D.
Figura
2
: Comparação entre o nível do mar simulado e observado
na Barra para 2 ciclos de maré. Vermelho representa o modelo 3D, verde para
o modelo 2D e azul para observações. A Figura
3
e a Figura
4
mostram comparações semelhantes em duas outras estações – S.
Jacinto e Costa Nova - respectivamente. Os resultados ajustam-se muito bem
com os dados particularmente para a fase. As pequenas discrepâncias na
amplitude são da ordem de 2% e são maiores na Costa Nova.
Figura
3
: Comparação entre o nível do mar simulado e observado
em S. Jacinto para 2 ciclos de maré. Vermelho representa o modelo 3D ,
verde para o modelo 2D e azul para observações.
Figura
4
: Comparação entre o nível do mar simulado e observado
em Costa Nova para 2 ciclos de maré. Vermelho representa o modelo 3D ,
verde para o modelo 2D e azul para observações. Ao longo do canal de Ovar existem
3 estações com dados de nível do mar: Miradouro, Moranzel e Torreira.
Globalmente, os resultados do modelo e os dados ajustam-se para estas estações,
com as maiores discrepâncias observadas em Moranzel (ver Figura
5
a Figura
7
)
Figura
5
:
Comparação entre o nível do mar simulado e observado em Miradouro para 2
ciclos de maré. Vermelho representa o modelo 3D , verde para o modelo 2D e
azul para observações.
Figura
6
:
Comparação entre o nível do mar simulado e observado em Moranzel para 2
ciclos de maré. Vermelho representa o modelo 3D , verde para o modelo 2D e
azul para observações.
Figura
7
: Comparação entre o nível do mar simulado e observado
em Torreira para 2 ciclos de maré. Vermelho representa o modelo 3D , verde
para o modelo 2D e azul para observações. Finalmente, a
Figura
8
e a Figura
9
ilustram as comparações em Cais do Bico e Ponte da Varela. Na
Ponte da Varela, como na maior parte das localizações, o ajustamento entre
o modelo e as observações é muito bom, ainda mais quando esta estação
é a mais distante da barra. No Cais do Bico as diferenças entre o modelo e
as observações são maiores do que em qualquer outra estação analisada.
Este aspecto é particularmente reforçado na maré vazante onde as diferenças
são aproximadamente de 10%. Este resultado foi atribuído a problemas
locais da batimetria.
Figura
8
: Comparação entre o nível do mar simulado e observado
em Cais do Bico para 2 ciclos de maré. Vermelho representa o modelo 3D ,
verde para o modelo 2D e azul para observações.
Figura
9
: Comparação entre o nível do mar simulado e observado
em Ponte da Varela para 2 ciclos de maré. Vermelho representa o modelo 3D ,
verde para o modelo 2D e azul para observações. Correntes
As correntes foram analisadas em
5 estações distribuídas ao longo dos principais canais da Ria de Aveiro:
Vista Alegre, Cais do Bico, Ponte da Varela, S. Jacinto e Sacor. Tal como
nos níveis, as correntes simuladas são comparadas as correntes observadas
e em alguns casos com os resultados obtidos com o modelo 2D da Hidromod
(1988) já mencionado. A comparação das correntes
obtidas com o modelo e os dados de campo não é tão
simples como a comparação de níveis. O modelo foi forçado impondo as
componentes harmónicas da maré no oceano. As séries temporais nos locais
dos marégrafos foram reconstituídas utilizando as mesmas componentes harmónicas
impostas na fronteira. Por outro lado os níveis não apresentam variações
locais importantes. Deste modo a comparação de níveis obtidos a partir do
modelo e a partir das observações é um problema objectivo. Pelo contrário, as correntes
calculadas pelo modelo são comparadas com os valores medidos, sem qualquer
filtragem. Assim, o vento é responsável por parte dos eventuais desvios
entre os valores medidos e os observados. Por outro lado a velocidade tem
variabilidade espacial em escalas muito menores que os níveis. Com efeito a
velocidade numa secção depende essencialmente do caudal e da área da secção.
Entre duas secções contíguas, o caudal mantém-se aproximadamente
constante, mas velocidade pode apresentar variação importantes, se variar
a profundidade, ou a largura do canal. Os correntómetros medem as
velocidades num ponto. Pelo contrário os resultados do modelo são a
velocidade média numa face cuja área é o passo local do modelo vezes a
profundidade local. A aumentar a estas dificuldades acrescem ainda as
devidas ao perfil vertical de velocidades. Melhor que a comparação das
velocidades medidas e calculadas seria a comparação de caudais. Estes não
são no entanto fáceis de medir. O volume de água que entra numa
zona da Ria e a taxa a que entra afecta directamente as amplitudes e as
fases da maré. Se os níveis medidos e calculados comparam bem em amplitude
e fase, isso significa que os caudais estão a ser bem calculados. A Figura
10
e a Figura
11
ilustram a comparação entre as correntes simuladas e observadas em
Vista Alegre em dois períodos diferentes. Globalmente, o ajustamento pode
ser considerado bom se tivermos em mente as considerações prévias. O
mesmo tipo de resultados é obtido em Cais do Bico, Ponte da Varela e Sacor
(Figura
12
a Figura
14
). Em ambos os casos a tendência simulada com o modelo 3D acompanha
os dados e também as correntes do modelo 2D.
Figura
10
: Comparação entre velocidades simuladas e observadas em
Vista Alegre. Vermelho representa o modelo 3D, verde o modelo 2D e azul as
observações.
Figura
11
: Comparação entre velocidades simuladas e observadas em
Vista Alegre. Vermelho representa o modelo 3D e azul as observações.
Figura
12
: Comparação entre velocidades simuladas e observadas em
Cais do Bico entre 4 e 5 de Abril 1989. Vermelho representa o modelo 3D,
verde o modelo 2D e azul as observações.
Figura
13
: Comparação entre velocidades simuladas e observadas em
Ponte da Varela entre 6 e 7 de Abril 1989. Vermelho representa o modelo 3D,
verde o modelo 2D e azul as observações.
Figura
14
: Comparação entre velocidades simuladas e observadas em
Sacor entre 4 e 5 de Setembro 1990. Vermelho representa o modelo 3D, verde o
modelo 2D e azul as observações. Finalmente para S. Jacinto (Figura
15
) as correntes simuladas são substancialmente diferentes dos dados.
Suspeita-se que o efeito das dragagens próximas da barra entretanto
efectuadas seja muito significativo para a explicação das discrepâncias
encontradas nas correntes.
Figura
15
: Comparação entre velocidades simuladas e observadas em
S. Jacinto para 3 ciclos de maré entre 4 e 5 de Setembro 1990. Vermelho
representa o modelo 3D, verde o modelo 2D e azul as observações. Salinidade
Como mencionado atrás, a maior
fonte de água doce para a Ria de Aveiro é o Rio Vouga. As contribuições
dos rios Antuã, Caster, Mira e Boco são no entanto essenciais para a
simulação da salinidade na Ria. A condição de fronteira com o oceano é
imposta usando dados climatológicos de salinidade. As trocas com a
atmosfera (evaporação e precipitação) são estimadas usando os dados
disponíveis para a região. Os resultados do modelo foram validados com
dados de Julho de 1996. As fontes de água doce e o
caudal correspondente são as seguintes (ver também Figura
16
): Vouga, 10 m3/s; Antuã, 2 m3/s; Caster, 1 m3/s;
Boco, 1 m3/s; Mira, 1 m3/s. A distribuição inicial
de salinidade foi obtida por interpolação espacial das médias temporais
medidas por Dias et al. (1998) em Julho de 1996. Os resultados do modelo
apresentam boa
concordância na fase (ver Figura
17
a Figura
21
). As diferenças nos valores obtidos são também pequenas. Em S.
Jacinto o valor médio do desvio entre as observações e o modelo é 1 psu,
enquanto que em Moranzel é 0.25 psu e em Parrachil é 0.5 psu. Os desvios
aumentam ao longo do canal de Ílhavo, em Vista Alegre e Ponte da FrioPesca.
Estes desvios são presumivelmente causados por incertezas nas condições
de fronteira. De facto é muito difícil estimar a quantidade de água doce
que entra no sistema e consequentemente impor correctamente a condição de
fronteira. Com efeito os erros produzidos numericamente produzem difusão
numérica, diminuindo a amplitude das oscilações simuladas. Ora, nestes
resultados a diferença é exactamente ao contrário. Os resultados das
simulações apresentam amplitudes menores do que as calculadas.
Figura
16
:
Localização das estações de salinidade: 1- Monrazel, 2- Parrachil, 3 –
São Jacinto, 4-Ponte da FrioPesca, 5- Vista Alegre. Os valores e localização
de fontes de água doce estão também representados.
Figura
17
: Séries temporais de salinidade em S. Jacinto in Julho
1996. Azul representa os resultados do modelo e vermelho as observações. A
linha ponteada representa o nível do mar.
Figura
18
: Séries temporais de salinidade em Julho 1996. Azul
representa os resultados do modelo e vermelho as observações. A linha
ponteada representa o nível do mar.
Figura
19
: Séries temporais de salinidade em Parrachil em Julho
1996. Azul representa os resultados do modelo e vermelho as observações. A
linha ponteada representa o nível do mar.
Figura
20
: Séries temporais de salinidade em Ponte da FrioPesca em
Julho 1996. Azul representa os resultados do modelo e vermelho as observações.
A linha ponteada representa o nível do mar.
Figura
21
: Séries temporais de salinidade em Vista Alegre em Julho
1996. Azul representa os resultados do modelo e vermelho as observações. A
linha ponteada representa o nível do mar. Circulação
média na Ria de Aveiro – a aproximação da maré M2 e dos
caudais médios
A análise dos campos de
velocidade horizontal revela dois aspectos da circulação na Ria de Aveiro:
As velocidades máximas são registadas na zona da barra, e no interior da
Ria as velocidades são baixas, distribuindo-se o caudal por uma rede
complexa de canais (ver Figura
22
à Figura
24
). Os resultados apresentados acima,
para calibração e validação do modelo foram obtidos considerando 25
componentes harmónicas de maré. No entanto, para estabelecer os limites do
estuário, as condições médias são mais objectivas. Assim, adiante serão
descritos os resultados obtidos usando apenas a componente M2 da
maré na fronteira com o oceano e os caudais médios anuais dos rios–
Vouga, 24 m3s-1; Antuã, 4.0 m3s-1;
Mira, 2.0 m3s-1; Caster, 2.0 m3s-1,
Boco, 2.0 m3s-1.
Figura
22
: Campo de velocidades próximo da barra durante a
vazante. A velocidade está em ms-1.
Figura
23
: Campo de velocidades no interior da ria durante a
enchente. A velocidade está em ms-1.
Figura
24
: Campo de velocidades próximo do Cais do Bico durante a
enchente. A velocidade está em ms-1. A comparação de resultados
obtidos com a maré real e com a maré média mostra os mesmos padrões de
circulação e por isso que as conclusões a retirar da hidrodinâmica são
as mesmas. A Figura
25
mostra os resultados para a estação próxima da Barra e
a Figura
26
na Costa Nova, no canal de Mira. A maré média mostra evolução
com a mesma forma, estando naturalmente os valores compreendidos entre os
obtidos em maré morta e maré viva.
Figura
25
: Comparação de resultados (níveis e velocidades) na
Barra obtidos com a maré real e com a maré média. A curva a vermelho
representa a simulação usando apenas a M2.
Figura
26
: Comparação de resultados (níveis e velocidades) na
Costa Nova obtidos com a maré real e com a maré média. A curva a vermelho
representa a simulação usando apenas a M2. Em Torreira – no canal de Ovar
– a diferença no nível médio é de cerca de 4% e a diferença das
velocidades é de cerca de 8% (ver também Figura
27
). No Cais do Bico (Figura
27
) as diferenças nos valores médios de cerca de 5% para o nível do
mar e para a velocidade.
Figura
27
: Comparação de resultados (níveis e velocidades) na
Torreira obtidos com a maré real e com a maré média. A curva a vermelho
representa a simulação usando apenas a M2.
Figura
28
: Comparação de resultados (níveis e velocidades) no
Cais do Bico obtidos com a maré real e com a maré média. A curva a
vermelho representa a simulação usando apenas a M2. Destas comparações pode
concluir-se que as diferenças entre as simulações com maré média e com
as 25 componentes de maré são pequenas e que as conclusões a extrair de
qualquer das simulações são idênticas. A consideração de uma maré média
torna a análise mais objectiva uma vez que evita a subjectividade associada
à “quási -periodicidade” do ciclo maré - morta maré - viva. Assim,
pode também concluir-se que a abordagem é válida para o objectivo deste
estudo que é o de estabelecer os limites de jusante do estuário, cuja
definição depende da capacidade de definir a zona de mistura da água do
estuário e do oceano costeiro. Distribuições
espaciais
O modelo é corrido nas condições
de maré e caudais médios descritos acima durante 4 dias para se obter uma
circulação periódica, a partir da qual foi calculada a circulação
residual. O escoamento e os processos de mistura foram visualizados a partir
do deslocamento de traçadores lagrangeanos, cujo deslocamento foi seguido
durante 2 dias. Estes traçadores facilitam a visualização das trocas
entre as diferentes regiões da Ria e o oceano. Para simular as distribuições
de salinidade o modelo foi executado a partir do memo ponto durante 30 dias,
período suficientemente longo para garantir uma solução independente das
condições iniciais. Os resultados são apresentados nas secções que se
seguem. Hidrodinâmica
As velocidades são máximas nos
canais principais, nomeadamente no canal de S. Jacinto - Ovar, no canal da
cidade e na extremidade norte do canal de Ílhavo. Nestes canais assim como
no canal da barra as velocidades instantâneas durante a vazante podem ser
superiores a 1 ms-1. Na restante área da Ria as velocidades são
em geral muito baixas. Na região costeira as correntes de maré são também
relativamente baixas, excepto na região muito próxima da embocadura, onde
as velocidades aumentam por acção do jacto de vazante. Em enchente o cenário
é muito semelhante ao descrito para a vazante, circulando a água em
sentido contrário. A velocidade residual calculada
integrando as velocidades instantâneas no tempo, não tem divergência
nula. Ela dá o sentido preferencial do deslocamento dos sedimentos sobre o
fundo. Os valores máximos ocorrem nos canais mais profundos, onde as
velocidades instantâneas são também máximas. Duma forma geral as
velocidades residuais são no sentido do oceano mostrando que a assimetria
da maré é essencial em termos de transporte de sedimentos sobre o fundo.
Junto à embocadura existem pequenos vórtices, mas o escoamento é
preferencialmente de saída. São apresentados também os fluxos residuais.
Estes resultados põe em evidência o papel dos canais no transporte de
massa. Embora as velocidades residuais possam ser elevadas nas zonas de
baixa profundidade, os fluxos residuais nessas zonas são baixos. Salinidade
O facto de os rios que desaguam
na Ria de Aveiro possuírem caudais relativamente baixos implica que a
distribuição de salinidade na Ria tenha gradientes baixos, com excepção
das zonas próximas das desembocaduras dos rios. De facto os resultados da
salinidade, mostram que somente o Vouga faz sentir a sua influência a
alguma distância do seu ponto de encontro com a Ria. O Mira e o Boco fazem
sentir a sua influência ao longo dos canais de Mira e Ílhavo,
respectivamente, mas não atingem o corpo central da Ria. Nas zonas próximas
da embocadura as salinidades sofrem oscilações muito num ciclo de maré
(~0.5 psu). Traçadores
Lagrangeanos
Para obter uma melhor visualização
dos movimentos das massas de água bem como das trocas entre a ria e o
oceano, utilizaram-se traçadores lagrangeanos.
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