Os estuários são zonas ecologicamente importantes porque um grande
número de organismos depende deles (pelo menos durante parte das suas
vidas), podendo perturbações neste compartimento ecológico ter
repercussões noutros, no seu exterior.
O tempo de residência da água no interior do estuário é simultaneamente
a causa da sua riqueza e da sua fragilidade. Em estuários ricos o tempo
de residência da água é da ordem das semanas a meses. Este tempo permite
a deposição da matéria particulada e o consumo de grande parte dos
nutrientes descarregados directamente pelo rio ou provenientes da
mineralização da matéria orgânica depositada nos sedimentos.
O
problema da eutrofização
As partes mais
ricas dos estuários são em geral eutróficas. Isto significa que a
produção primária estimulada pela disponibilidade de nutrientes é
intensa, disponibilizando carbono que é respirado em grande parte por
organismos heterotróficos consumindo oxigénio. A matéria orgânica não
assimilada por estes organismos é mineralizada por bactérias dando
também origem ao consumo de oxigénio.
As regiões eutróficas são por isso zonas com grandes oscilações em
termos de oxigénio dissolvido. O oxigénio consumido na respiração é
proveniente da fotossíntese e das trocas entre a coluna de água e a
atmosfera. Durante períodos de fotossíntese intensa há grande produção
de oxigénio, podendo ocorrer períodos de sobre - saturação e a coluna de
água exporta oxigénio para a atmosfera. Pelo contrário, durante períodos
com baixa intensidade luminosa a coluna de água tende a ser importadora
de oxigénio para satisfazer as necessidades devidas à respiração da
grande densidade de organismos. Se o grau de eutrofização for excessivo,
períodos com concentração de oxigénio abaixo do limite crítico podem
ocorrer, levando à morte de espécies por asfixia. Este períodos são mais
prováveis durante:
• Épocas quentes, quando a solubilidade do oxigénio é mínima,
• Durante a noite, quando não há fotossíntese,
• Durante períodos sem vento, quando as trocas com a atmosfera e a
difusão na coluna de água são mínimas,
• Após períodos de descargas fluviais de matéria orgânica e amónia
elevadas, que estimulam a actividade bacteriana.
Em Portugal estes períodos são mais prováveis no início do Outono quando
há maior variabilidade do estado do tempo, com alternância de períodos
de chuva e de sol. Os nutrientes lixiviados nos terrenos agrícolas em
dias de chuva estimulam a produção primária nos dias de sol subsequentes
e limitações de oxigénio podem ocorrer se esses períodos de
produtividade elevada forem seguidos por dias de pouca luminosidade
(novos dias de chuva).
A descarga de poluentes
O tempo de residência elevado da
água no interior dos estuários e a acumulação de materiais finos nos
fundos vazosos torna os estuários particularmente sensíveis aos
poluentes. Os produtos químicos tendem a ser adsorvidos pela matéria
particulada e a sedimentar no interior do estuário nas zonas vazosas e
de sapal, as quais são as mais importantes em termos de zonas de
reprodução e de desenvolvimento de juvenis e para as aves.
A descarga de poluentes – especialmente se podem ser adsorvidos pelo
material particulado – deve por conseguinte ser minimizada no interior
do estuário (e nos rios).
Tempo
de residência
O tempo de
residência (ou de retenção) da água no interior do estuário é definido
como o tempo necessário para que a água doce proveniente do rio chegue ao
mar. O tempo de residência da água doce no estuário pode ser calculado
como a razão entre o volume de água doce existente no interior do estuário
e o caudal do rio. O cálculo do tempo de residência a partir de dados de
campo requer o conhecimento da distribuição espacial de salinidade, a
assumpção de que toda a água doce existente no interior do estuário é
proveniente do rio e que a distribuição de salinidade não dependia do
tempo na altura em que foi medida. Em sistemas sujeitos a maré, o volume
de dados de salinidade deve ser suficiente para filtrar as oscilações por
ela induzidas. Este conjunto de requisitos é dificilmente satisfeito e por
isso o valor do tempo de residência calculado a partir da distribuição de
salinidade deve ser tomado como indicativo.
Como referido mais atrás, quanto maior o tempo de residência, mais
produtivo, mas também mais sensível deve ser o estuário à descarga de
contaminantes (pois mais difícil é a sua descarga destes produtos para o
mar).
O tempo de residência foi durante muito tempo um dos padrões de comparação
de estuários. O seu uso para tomar decisões de gestão é, no entanto,
perigoso. Em estuários unidimensionais, o tempo de residência calculado
com base na salinidade é um majorante do tempo de residência da água
descarregada entre o rio e o mar. Em estuários com formas mais complexas,
a circulação residual pode ter recirculações importantes e o tempo de
residência da água proveniente do rio pode ser inferior ao tempo de
residência da água proveniente de outras descargas.
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