As
Directivas Comunitárias obrigam os países da União Europeia a
fornecer à Comissão os limites de jusante dos estuários, acompanhados
de documentação que suporte a sua identificação.
A
Directiva recomenda que os limites dos estuários sejam definidos com
base nas distribuições de salinidade, mas não define exactamente
quais os critérios a seguir. A utilização exclusiva deste parâmetro
pressupõe a existência de séries temporais longas em pontos e
profundidades suficientes para caracterizar as distribuições espaciais
e temporais de água doce. Nos estuários para os quais essas séries não
existem, uma resposta com base exclusiva na salinidade exigiria períodos
de medição de anos, para que as medidas fossem significativas.
Efectivamente
a salinidade é um traçador que permite quantificar a taxa de diluição
da água doce na água do mar, mas não é um critério objectivo para o
estabelecimento dos limites de jusante. Com efeito a salinidade tem
variações sazonais e verticais importantes e por conseguinte a
salinidade de um ponto só pode ser caracterizada através de séries
temporais longas, incluindo diferentes regimes de descarga fluvial.
A
salinidade é um traçador cuja distribuição depende do caudal fluvial
e dos processos de transporte no estuário. Os processos de transporte são
uma consequência directa da hidrodinâmica, a qual é efectivamente o
processo que determina os limites do estuário. O uso da salinidade para
caracterizar os processos de transporte deve-se ao facto de ser uma
propriedade conservativa (só depende das descargas e dos processos de
transporte), à facilidade da sua medição e ainda ao facto de ter
gradientes menores que os de velocidade podendo por isso ser
caracterizada a partir de medidas em menor número de pontos.
Assim,
quando a delimitação dos estuários tinha que ser feita exclusivamente
com base em dados de campo, o recurso à salinidade era o mais adequado
(especialmente se já existiam dados históricos). Actualmente a modelação
matemática é uma ferramenta barata, de divulgação generalizada e de
implementação rápida em novos sistemas.
O recurso a esta ferramenta permite a definição dos limites dos
estuários recorrendo directamente à circulação hidrodinâmica
podendo contribuir para tornar os pressupostos da Directiva menos
subjectivos.
Trabalho
prévio
Ainda
no ano de 2000, no âmbito do processo de avaliação do pedido de
derrogação do tratamento secundário para a Costa do Estoril, foi
necessário definir o limite de jusante do Estuário do Tejo. O estuário
do Tejo é um dos maiores da Europa e um dos mais bem estudados em
Portugal. Para este estuário foi possível recolher informação sobre
salinidades e espécies biológicas suficientes para caracterizar a
influência marinha e dulçaquícola em cada região.
Para
este estuário foi também simulada a hidrodinâmica e foram usados traçadores
lagrangeanos para visualizar o movimento das massas de água. As conclusões
retiradas a partir dos dados de campo e dos resultados do modelos eram
semelhantes, demonstrando a possibilidade de definir os limites do estuário
a partir dos resultados do modelo hidrodinâmico. A comparação dos
dois métodos mostrou ainda que a definição dos limites do estuário a
partir dos resultados do modelo é mais objectiva (e mais detalhada) do
que a partir dos dados de campo.
Com
base no caso do estuário do Tejo foi decidido adoptar a modelação
matemática como metodologia de definição dos limites para todos os
estuários. Esta metodologia tem benefícios em termos de prazos de
execução, de custos, e ainda de capacidade de reutilização do
produto deste trabalho em estudos futuros. Com efeito os modelos agora
implementados são uma ferramenta de grande utilidade para gestão
daqueles estuários e para coordenação de estudos de monitorização
que venham a ser implementados.
Por
uma questão de abrangência e de simplicidade de consulta, foi decidido
incluir também neste estudo a definição dos limites do estuário do
Tejo. Por uma questão de homogeneidade as figuras descrevendo os
resultados do modelo foram refeitas utilizando o software gráfico mais
recente usado nos outros estuários.